CRÔNICAS NOVAS TODA SEXTA-FEIRA. CONFIRA!

 

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Cavalheiros




CAVALHEIROS

Espécime raro, quase em extinção.

Não é porque a mulher ficou mais independente que não ganhará mais os “mimos” dos homens.

Poucos sabem que o homem anda na parte de fora da calçada, perto da rua, para proteger a mulher.

No primeiro encontro, por mais que a mulher insista em rachar a conta, o homem tem que pagar. Lei do cavalheirismo.

Dê preferência  às mulheres em fila, elevador, assentos, ônibus.

O sujeito ganha mil pontos quando faz isso.

Um sincero cavalheiro.

Mas tudo com bom senso e bem dosado para não deixar as mulheres muito mal-acostumadas (ou bem acostumadas - não sei).

Conheço um caso de excesso.

O sujeito também não era muito certo da cabeça, ele era medido aos extremos. Tertuliano não era um bom exemplo de gentileza. Era rude e grosso como uma porteira. Sua namorada Tavinha sofria, coitada.

             - Anda “mulé”, se não consegue correr de salto alto, vem descalço, sua lesma!

            - Querido, me espere. Segure minha mão pra eu não cair.

- Ô lerdeza, não vou te carregar não.  Nos encontramos lá na festa.

Ou

- Arrrurt! (arroto). Ê belezura, estou de pança cheia.

- Terminou de almoçar, benzinho? Chega pra lá intao, preciso sentar para almoçar também

-Vai lavar meu prato, depois que eu sair você senta.

 

Ele nunca a ajudava para nada, nem para pegar peso, a tratava mal à vezes na frente dos outros. Era um tremendo porta. Ela só não terminava porque achava que ainda tinha conserto.

E tinha!

Ela o obrigou a fazer um curso de “Etiqueta masculina e cavalheirismo”. Foi o melhor aluno da turma. Saiu de lá um doce. Mas doce demais enjoa.

Ele não deixava a mulher fazer mais nada. Carregava tudo, cuidava de tudo, lavava tudo. Virou um “pau-mandado”. Tudo o que ela pedia, ele logo fazia. 

A mulher foi embora. Terminou. Ela achou que perdeu a graça e não se sentia mais útil.

Coitado do Tertuliano. Entrou em crise! 

Tem que haver meio termo. Cortesia é sinal de pessoa civilizada e o cavalheirismo anda junto nessa.

Numa escada, por exemplo,  o homem tem que subir atrás da mulher , caso ela caia ele irá segurá-la. Na descida ele vai na frente para a mulher apoiar-se nele.

Seja sempre cortês e educado. A espécie está em extinção.

Homens,  meninos, rapazes e senhores, estou lançando uma campanha:

“Campanha de preservação:  Salvem os cavalheiros”

 

(Késia Câmara)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

CRONISTA SEM INSPIRAÇÃO

 

CRONISTA SEM INSPIRAÇÃO


Caro leitor, me rendo hoje à preguiça, à falta de inspiração e ao genuíno ato de procrastinar.

Escrever uma crônica é mostrar a vocês detalhes do dia-a-dia com uma visão que só o cronista tem, simples da vida. As simplicidades banais são as melhores histórias de nossas vidas, e poucos se dão conta dessa riqueza.

Mas voltando, hoje não há inspiração, caro leitor.

Sinto muito, mas pode parar de ler por aqui. Se continuar, não me responsabilizo por suas críticas.

Imaginem a dificuldade de um pintor sem tinta, de um professor sem aluno, de um cachorro seu um osso pra roer. Não há nada o que fazer com um cronista: mau-humorado, sem inspiração. Um escritor com papel, lápis e mil idéias na cabeça. Idéias   que não querem ir para o lápis. Que teimosas!

Sendo assim, por hora entreguei-me à sua teimosia e rendi-me à procrastinação.

Eu avisei lá em cima para não continuar lendo, você é outro teimoso.

Permita-me retificar: O cronista nunca perde a inspiração, uma vez que os textos são o retrato que nossos olhos fazem do mundo. Ocorre que as palavras agarram, o papel fica grande demais e o lápis pesado.

Acontece...

Qual engenheiro nunca errou um cálculo?

Qual mulher nunca borrou um batom?

Tal qual eu, cronista, sem saber o que escrever. 

Mas por fim das contas, sem querer você acabou lendo e lendo esse texto furado...e eu fui escrevendo, escrevendo e escrevendo...

Até que nasceu esse projeto de crônica. Culpa sua leitor teimoso, que nao parou de ler.



Autora: Késia Câmara

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

DESPEDIDA


DESPEDIDA

 

Despeço-me desta vida. Despeço-me dos dias de praia. Será que sentirão minha falta? Despeço-me das ondas. Adeus meu querido surf, como eu te amei.

A vida é muito curta.

Deitado em minha cama, numa linda tarde me despeço das longas e profundas sonecas. Sentirei sua falta. Aperto o travesseiro pela última vez. Adeus.

Despeço-me dos dias ensolarados de sorvete, tantos sabores, tanta vida. Como é difícil dizer adeus.

Despeço-me dos filmes, cinemas e futebol com os amigos de quinta-feira. Nunca se esquecerão de mim, grandes gols, grandes jogos!

Abraço apertado meus amigos nessa despedida. Terão que ser fortes. A vida é assim mesmo, as pessoas passam.

Despeço-me da sessão da tarde, vídeo show e vale a pena ver de novo (desses despeço-me apenas por educação).

Lembro-me como se fosse ontem. A turma reunida no parque jogando bola, paqueras, troca de olhares. Despeço-me (Não da paquera. Só do parque)

Despeço-me desse dia lindo e ensolarado, ou até mesmo chuvoso, lembrarei dos cantos de passarinhos em minha janela.

Abraço forte meus pais, confortando-os.

Digo isso para que sejam fortes, pois esse dia chega para todos nessa vida.

Deixo essa vida para entrar na história.

Há tempos tenho me preparado para esse fim.

Um grande abraço aos meus colegas do clube VASP (Vagabundo Sustentado pelo Pai). Despeço-me também.

Despeço-me da vida.

Da vida de ser só estudante.

Vou começar a trabalhar.



 Késia Câmara, 17 outubro 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

ANIVERSÁRIO

Hoje é aniversário da autora das crônicas.
Que lindu!
Feliz aniversário pra mim.
Késia Câmara

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

QUARTO




QUARTO

 

-         Toda pessoa precisa ter seu espaço.

Grande, pequeno, arrumado, bagunçado, verde, rosa, azul...

O meu, particularmente, é bagunçado e rosa. Rosa por opção da minha irmã. Bagunçado por minha opção (embora nunca admitido).

Nós – desorganizados – somos mal compreendidos nessa sociedade pragmática, principalmente pelas mães.

Tentam nos impor paradigmas, reputando-nos ao erro, à incapacidade organizacional, como se fôssemos compostos somente pela balburdia, fomentada por nossas necessidades de encontrarmos nosso próprio eu! 

-         Mariazinha! 

-         A vida não é composta de gavetas organizadas, roupas dobradas, cama arrumada. A vida é mais que isso. É livre, é repleta de alegrias que nos afirmam com veemência a nossa necessidade de sermos como somos, pura e talentosamente desorganizados. 

-         Mariazinha! 

-         Essa sociedade rotulatória, nos julga incapazes apenas pelo fato de sermos diferentes. Quero minhas roupas e sapatos jogados, edredom no chão, dispostos conforme meu coração mandar. Mas não, isso propulciona  as chamadas “lideres maternais”, que nos obrigam a irmos contra nossos princípios de liberdade organizacional. 

-         MARIA!        

-         Protesto! Para mim basta! Sou autóctone de meu espaço, decorrente de minha criação, meu quarto, meu lugar! Em um ato peremptório de libertação, renuncio a esse universo caudatário, cuja finalidade precípua é instaurar-nos em um mundo sub-desenvolvido.

      -         Chega Mariazinha, CHEGA! 

-         Mas mãe, isso não é justo. Vou recorrer da sua decisão. 

-         Não é decisão, é uma ordem: VÁ JÁ ARRUMAR SEU QUARTO. 

-         Mas mãe... 

-         Mas nada. Chega de papo-furado 

-         (snif) Resta-me somente resignação a essa arbitrariedade malogra... 

-         Essa menina! Com que turma ela tem andado?


(Texto de Késia Câmara, desenho de André Mangabeira )



Momentinho Dicionário:  

Autóctone nativo

Caudatário – indivíduo servil

Fomentar – inscitar, estimular                         

Instaurar – estabelecer

Malogro  fracasso

Paradigma – modelo, padrão.

Peremptório – decisivo

Pragmático – direto, objetivo

Precípuo – principal

Reputar – considerar-se

Resignação – sofrer quieto

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

BANHEIRO

BANHEIROS

 

Tenho uma obsessão por banheiros.

Sou o tipo que não consegue passar em frente deles e não entrar.

É uma espécie de coleção, não sei, gosto de observá-los. Uma vez me perguntaram:

-         Marlene, você coleciona o que?

-         Banheiros.

Prefiro os mais espaçosos, com assentos macios. Testo todos.

Melhor lugar para ler um livro: Banheiro

 

Ao contrário do que muito gente pensa, banheiro é um ótimo lugar para se viver. É discreto, silencioso e limpo (quase sempre). É o espaço onde me sinto mais à vontade, não preciso manter a postura e murchar a barriga.

Posso contar vários causos de banheiro. Um dos melhores são os banheiros de faculdade. Um centro de início de fofoca, o banheiro feminino.

-         Minina, nem te conto!

-         Conte-me tudo, Ritinha!

-         Não tem o Betão do 8° período? Chamei ele pra sair!

Pronto, confusão armada. O Betão do 8º período tinha namorada. Eu.

 

Outra:

A mulher entra no banheiro – como se houvesse privacidade –  falando ao celular. Na verdade há, mas no silêncio)

-         Oi benzinho, como você esta? Será que alguém nos viu? É, eu também acho, ela vai acabar descobrindo. Também já estou com saudades. Não, de você, meu marido não me faz falta. Tenho que desligar, vou dar aula do 5º período agora. No 7º? Cuidado com a Ritinha viu! Eu também. Tchau.

Foi assim que descobri que minha professora de Matemática tinha um caso com o professor de Filosofia

 

Outra:

-         Você ficou sabendo?

-         Não, qual foi a notícia da Semana?

-         O Zecão. Invadiu a rádio da escola e se declarou pra Tuca.

-         Que bonito.

-         Bonito? Na mesma hora ela foi na rádio e disse que não queria nada com ele. Um fora fenomenal e público. Nunca mais o vi por esses corredores.

 

Mas como eu estava dizendo, todo mundo tem uma relação curiosa com os banheiros.

Quem nunca tirou um cochilo ou se escondeu de um chato no banheiro?

Na casa dos outros, por exemplo, sempre somos curiosos. Um banheiro novo, desconhecido. Uma zona livre, o metro quadrado só seu, para ver e fazer o que quiser.

Dizem que se conhece o dono da casa só pelo banheiro.

Certa vez fui à casa de uma grande e velho amigo – dentista – conhecer sua casa nova.

Papo vai, papo vem, senti que tinha alguma coisa que havida mudado nele.

Pedi licença e perguntei onde ficava o banheiro.

Na verdade eu só queria fazer uma investigação na vida do meu velho amigo. Algo mudara.

Entrei no banheiro e comecei a conferência:

Xampu anti-queda, creme dental, escova de dente...Opa! Cadê o fio dental? Logo ele – dentista – não usava?!

Toalhas, tapetes..tudo como ele sempre tinha. Havia somente duas coisas diferentes: Uma toalha rosa com florzinha e estava tudo organizado de mais.

Abri uma das gavetas: duas escovas de dente infantis – uma de elefantinho e outra de girafa – e uma feminina: Rosa.

Saí do banheiro surpresa, investigação concluída.

Acho que demorei muito. Meu amigo estava me esperando na porta do banheiro com aquele sorriso de “eu sei o que você estava aprontando”.

-         Vejo, minha querida, que não perdeu aquele velho hábito. Então, concluiu o que na investigação do meu banheiro.

Sorri, meio que totalmente sem graça, pega “com a boca na botija”.

-         Bom, Eeeh...

-         Fala Marlene, ainda te conheço.

-         Você tem se sentido velho e se preocupando ultimamente por causa desse início de calvície (Xampu anti-queda). Há uma mulher em sua vida e você a ama muito. Ela e os filhos têm vindo muito à sua casa, dormem sempre aqui (a escova de dente das crianças estava úmida ainda). Ela é uma mulher controladora (tudo organizado de mais. Ele odeia isso.) e vocês têm tido certos problemas, em função disso seu problema de estômago voltou (enxaguante bucal, contral mau-hálito).

-         (...)

Sorri de contentamento. Sabia que acertara na mosca. Anos de observações de banheiros, anos.


(Késia Câmara - 01/outubro)