CRÔNICAS NOVAS TODA SEXTA-FEIRA. CONFIRA!

 

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

NÃO QUERO

NÃO QUERO

 

- Como podem perder o brilho no sorriso? A doçura do falar, a esperança infantil, a fé na vida, no amor, a crença na família. Desacreditar no que é bom, nas coisas bonitas.

Poxa, mamãe, se for assim eu não quero crescer. Não quero viver na correria, não quero parar de perceber como o céu esta azul. Não quero deixar de ver o pôr do sol, não quero parar de rir a toa e ficar nervoso com qualquer coisa.

Não quero sair para trabalhar antes de amanhecer e chegar ao anoitecer, não quero ficar longe do papai, da mamãe e dos meus amiguinhos.

Não quero desacreditar na beleza da amizade, não quero crer na desconfiança, não quero inimizade.

Não quero responsabilidades que me prendam. Não quero perder a paciência, o fino trato e o bom humor.

Só quero correr livre pela vida, sorrir pelos caminhos a fora, poder ouvir um passarinho, ver um casal de velhinhos no parque. Quero gostar de ouvir e ver coisas que poucos percebem, coisas que gente grande larga de lado.

Mamãe, porque que gente grande é tão desapercebida?

Heim?

Por que eles se esquecem das coisas? Quando eu crescer não quero ser gente grande. Não quero esquecer de ter tempo pra brincar, de sair passeando sem rumo, só para ver as árvores ou qualquer coisa.

Não quero esquecer de respirar fundo quando as coisas apertarem, nem de ficar quietinho quando estiver nervoso. Não quero deixar de lembrar que somos todos iguais e que ninguém tem o direito de humilhar alguém.

Ah, mamãe, não quero crescer. Não quero perder seu colo, seu comando, nem ficar longe do seu cheirinho.

Não quero. Não quero querer nada. Gente grande quer tanta coisa que acaba querendo só o que é difícil e deixa o que é fácil de lado.

É fácil sorrir, é fácil fazer um carinho, um abraço. Como é facinho fazer alguém se sentir importante.

Pronto, já me decidi: Quero ser criança pra sempre.

Boa noite mamãe, te amo. Apaga a luz pra mim, boa noite.




Cronista: Késia Câmara

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O término

 O término

 

 

-          Me recuso a dar o braço a torcer. Me recuso a sentir o que eu não quero. Recuso o sentimento que se sobressai à razão.

Não sei porque o ser humano é assim. Cada um deveria vir com uma etiqueta escrito

De: _______     Para:______

Me recuso a relembrar, me recuso a não esquecer.

Renuncio ao cargo de amar

Renuncio ao erro

Renuncio ao sentimentalismo e ao romantismo!!

Ahhhhhhh!

 

Foi o desabafo e a proclamação da liberdade de Beatriz, que degustara cada palavra dita. Respirou fundo e sentou-se no chão, ofegante, mas  quase calma. Estava linda, realizada, havia posto para fora anos de silêncio.

Paulo estava atônito, não sabia o que dizer. Sentou-se no sofá em silêncio por um instante, e disse:

-          É isso mesmo querida? Depois de tantos anos.

-          É Paulo. É isso mesmo, meu querido.

-          Mas o que houve? O que eu fiz?

-          Você não fez nada. Eu que fiz. Errei com nosso amor.

-          O QUE VOCÊ FEZ BEATRIZ?

-          Te amei demais.

-          Ufa!

-          Te amei mais que meu amor próprio. Cansei de te amar muito, meu coração chegou a gastar de tanto amor.

-          Beatriz!!

-          Não adianta Paulo. Terei que te esquecer, terei que descer das nuvens e pisar na vida real, sair do sonho. Nosso excesso de cumplicidade me sufocou, nosso excesso de alegria me isolou. Não pense mal de mim, você morará eternamente em meu coração, mas terei que seguir adiante sem você.

-          Oh querida, e o que faço sem você?

-          Viva sua vida, seja feliz e conquiste novos amores, uma outra namorada.

 

Beatriz deixou-o na sala e foi para sua casa.

Betão a esperava na saída.

-          E aí, Bê? Conseguiu dessa vez?

-          Consegui. Explodi, falei tudo. Aliás, falei a cena todinha de um filme que vimos ontem. Coitado, deixei-o lá sozinho, estarrecido.

-          Coitado nada. É a quinta vez que você tenta terminar e eu fico aqui, só te esperando.

Beatriz deu-lhe um beijo e seguiram pelo caminho de mãos dadas.

 

 

 

 

Paulo:

-          Nem acredito! Nem precisei falar nada. Nunca pensei que seria tão fácil terminar. Só falei que precisávamos ter uma conversa inadiável e ela começou tudo aquilo. Estou pasmo. Tenho que falar com a Lurdinha.

 

-          Alô.

-          Lurdinha, é o Paulo 

-          Oi 

-          Quer sair comigo? Agora estou solteiro. 

-          Onde? 

-          Cachorro quente do seu Juca. 

-          Que horas? 

-          Daqui uma hora. 

-          Marcado. 

-          Nem acredito! Você aceitou meu convite desta vez! 

-          Você está solteiro. 

-          É. 

-          Tchau, nos vemos lá. 

-          Tchau.

 

Paulo desligou o telefone com uma sensação de que já ouvira todo aquele discurso de Beatriz em algum lugar. Sorriu e foi se arrumar para o encontro.

 

 

cronista: Késia Câmara

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Educação ou má-educação



Educação ou má-educação

 

Coisa curiosa é o tal do escritor. Gosta de se arriscar nos vários estilos de escrever. Frederico é um exemplo, não sabia como iria escrever um texto. Tinha as palavras, mas não sabia se iria dissertar, narrar, cronicar, contar, poemizar, jornalizar...até mesmo “sloganizar”.

Tinha prazo de entrega. Pegou lápis, papel  e saiu disparando os textos nos modos variados.

Dissertação:

Hoje em dia, muitos têm sido os problemas em nosso Brasil. O principal e mais enraizado é a educação, jogada às traças, sem nenhum investimento, às margens de imensas arrecadações tributárias. Um grande erro deste governo foi ignorar a educação – ou má educação, se assim podemos dizer – do nosso país.


Crônica:

No interior de Minas conheci um garotinho, Tonho. Ele sonhava com a escola que ele tanto ouviu falar que seria construída.

- Mamãe, quando vou ir para a escola?

- Não sei, filhinho.

- Eu quero ficar inteligente para um dia virar político. Quero construir um monte de escolas para nossa cidade.

- Tonhinho, se você quiser estudar para melhorar o país, estude. Mas se quiser virar político para construir escolas, esqueça. Político não faz, só promete.

- Mas mamãe, aquele candidato nos prometeu a escolinha.

- Prometeu filhinho, apenas prometeu. 

 

Poema:

Educação é primordial

Mas falta o principal

O apoio do governo

Que nos deixou ao ermo

Em mundo de ilusões

Falando apenas de embromações 

 

 

Slogan

REFORMA EDUCACIONAL JÁ! 

 

Jornal (sensacionalista)

Tenho visto a precariedade do nosso sistema educacional. Fico indignado ao ver crianças jogadas às mazelas da vida, sem instrução, sem educação. Isso é um absurdo! Não pode, não dá! Põe na tela, põe na tela, a cena desse menor vendendo bala no semáforo ao invés de ir para a aula. Isso é um absurdo! Até onde iremos chegar?! Isso é uma vergonha.

 

Conto

Conta-se uma história de um povo muito rico e muito pobre. Rico em recursos, potencial, cultura. Um povo alegre, festeiro, mas pobre de governo, política, educação. Esse povo bonito sabia que precisava de uma educação melhor, mas eles não se entendiam muito bem com os governadores.

Um dia todos se reuniram para conversar. Decidiram juntos investir na sociedade e na educação. Todas crianças cresceram nas escolas, na vida e viveram felizes para sempre.

(história fictícia, claro).

 

Por fim, Frederico, nosso escritor, olhou para os textos, leu, releu, leu de novo.

Deu um sorrisinho frustrado, amassou o papel e jogou fora. Lembrara que a redação, a quem enviaria o escrito, era ligada ao governo.

Pegou novamente um papel e escreveu uma historinha qualquer. E segue a vida, tentando se desviar dos erros daqueles que mandam e desmandam.

 

 

Késia Câmara