BANHEIROS
Tenho uma obsessão por banheiros.
Sou o tipo que não consegue passar em frente deles e não entrar.
É uma espécie de coleção, não sei, gosto de observá-los. Uma vez me perguntaram:
- Marlene, você coleciona o que?
- Banheiros.
Prefiro os mais espaçosos, com assentos macios. Testo todos.
Melhor lugar para ler um livro: Banheiro
Ao contrário do que muito gente pensa, banheiro é um ótimo lugar para se viver. É discreto, silencioso e limpo (quase sempre). É o espaço onde me sinto mais à vontade, não preciso manter a postura e murchar a barriga.
Posso contar vários causos de banheiro. Um dos melhores são os banheiros de faculdade. Um centro de início de fofoca, o banheiro feminino.
- Minina, nem te conto!
- Conte-me tudo, Ritinha!
- Não tem o Betão do 8° período? Chamei ele pra sair!
Pronto, confusão armada. O Betão do 8º período tinha namorada. Eu.
Outra:
A mulher entra no banheiro – como se houvesse privacidade – falando ao celular. Na verdade há, mas no silêncio)
- Oi benzinho, como você esta? Será que alguém nos viu? É, eu também acho, ela vai acabar descobrindo. Também já estou com saudades. Não, de você, meu marido não me faz falta. Tenho que desligar, vou dar aula do 5º período agora. No 7º? Cuidado com a Ritinha viu! Eu também. Tchau.
Foi assim que descobri que minha professora de Matemática tinha um caso com o professor de Filosofia
Outra:
- Você ficou sabendo?
- Não, qual foi a notícia da Semana?
- O Zecão. Invadiu a rádio da escola e se declarou pra Tuca.
- Que bonito.
- Bonito? Na mesma hora ela foi na rádio e disse que não queria nada com ele. Um fora fenomenal e público. Nunca mais o vi por esses corredores.
Mas como eu estava dizendo, todo mundo tem uma relação curiosa com os banheiros.
Quem nunca tirou um cochilo ou se escondeu de um chato no banheiro?
Na casa dos outros, por exemplo, sempre somos curiosos. Um banheiro novo, desconhecido. Uma zona livre, o metro quadrado só seu, para ver e fazer o que quiser.
Dizem que se conhece o dono da casa só pelo banheiro.
Certa vez fui à casa de uma grande e velho amigo – dentista – conhecer sua casa nova.
Papo vai, papo vem, senti que tinha alguma coisa que havida mudado nele.
Pedi licença e perguntei onde ficava o banheiro.
Na verdade eu só queria fazer uma investigação na vida do meu velho amigo. Algo mudara.
Entrei no banheiro e comecei a conferência:
Xampu anti-queda, creme dental, escova de dente...Opa! Cadê o fio dental? Logo ele – dentista – não usava?!
Toalhas, tapetes..tudo como ele sempre tinha. Havia somente duas coisas diferentes: Uma toalha rosa com florzinha e estava tudo organizado de mais.
Abri uma das gavetas: duas escovas de dente infantis – uma de elefantinho e outra de girafa – e uma feminina: Rosa.
Saí do banheiro surpresa, investigação concluída.
Acho que demorei muito. Meu amigo estava me esperando na porta do banheiro com aquele sorriso de “eu sei o que você estava aprontando”.
- Vejo, minha querida, que não perdeu aquele velho hábito. Então, concluiu o que na investigação do meu banheiro.
Sorri, meio que totalmente sem graça, pega “com a boca na botija”.
- Bom, Eeeh...
- Fala Marlene, ainda te conheço.
- Você tem se sentido velho e se preocupando ultimamente por causa desse início de calvície (Xampu anti-queda). Há uma mulher em sua vida e você a ama muito. Ela e os filhos têm vindo muito à sua casa, dormem sempre aqui (a escova de dente das crianças estava úmida ainda). Ela é uma mulher controladora (tudo organizado de mais. Ele odeia isso.) e vocês têm tido certos problemas, em função disso seu problema de estômago voltou (enxaguante bucal, contral mau-hálito).
- (...)
Sorri de contentamento. Sabia que acertara na mosca. Anos de observações de banheiros, anos.
(Késia Câmara - 01/outubro)